Havia uma menina sentada em frente a uma janela. Ela ficava a olhar durante horas aquelas pessoas que passavam, as crianças que corriam. De vez em quando saía dali e ia brincar com suas bonecas de pano e criava muitas estórias. Às vezes tocava flauta doce, às vezes brincava de cabaninha, às vezes dormia no meio do caminho. Às vezes sonhava acordada. Nas noites em que os fantasmas não param de aparecer, essa pequena corre para o teatro. Sem pedir licença entra e dá voltas, e mais voltas sem parar. Perde o fôlego. Suspira. Mergulha no meio do palco, olha as luzes, as coxias, percorre os camarins e sonhando senta na ribalta e fica a balançar os pezinhos bem devagar. Sonha acordada!
De repente ela capturava todas as fases da lua e se sentia a Julieta – tu me amas? Sei que responderás que sim e eu acreditarei em tua palavra- .
De repente, era uma bailarina azul, por ora um palhaço que voa e oferece balas aos pássaros.
De repente ela podia ser tudo que sua imaginação quisesse...
Os olhos atentos atrás da cortina esperando o início. O terceiro sinal. As cortinas se abrem. Eu me despedaço em sonhos. A melodia toca. Os olhos entram na caixa preta ou no círculo azul ou na rua cinza. Não importa. Ele acontece em qualquer lugar. Basta acenar e ele já vai entrando. Sirvo uma taça de vinho. Sirvo meus ouvidos, sentidos, boca, tato, paladar, me entrego. Depois do terceiro sinal não se cubra com casacos de veludo. Não ponha óculos escuros. Deixe os olhos sangrarem.
A vida então pede passagem para acontecer. Eu desperto. Sou provocada pela urgência. Corro, dou mais um milhão e duzentas mil voltas. Morro e vivo em uma hora e meia.
De repente a menina está novamente na janela, às mesmas pessoas passam, mas agora tudo está em tons de carambolas azuis.
Que vontade de engolir o mundo! Uma alegria transborda dentro de mim.
(Tarcila Albuquerque)
domingo, 24 de maio de 2009
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