terça-feira, 26 de maio de 2009

"Eu posso voar"

Ela decobriu que podia voar! Nao como um passaro, nem como uma pluma; mas como so ela poderia. Flutuava no ar sempre que fechava os olhos e afirmava com um sorriso atravessado no rosto de modo a sussurar, sendo ouvida por quem quizesse ouvir “EU, posso voar”!
Ouvidos distraidos nunca pararam pra escutar aquela pequena e insignificante voz, porque esses ouvidos sabiam das mentiras sopradas pelos ventos, sabiam das reais necessidades das bocas, dos olhos, dos bolsos... Ah, esses ouvidos, nao davam ouvidos, mas ela sabia, e sabia como sabia seu proprio nome e sabia como sabia que o mundo era mundo e os ouvidos, ouvidos e as bocas, bocas e os bolsos, bolsos. Sim, ela sabia, mas bastava?
Passou a afirmar sua incrivel capacidade agora num tom mais alto “EU, posso voar”, incrivel pois nenhum outro, pelo que ela sabia, tinha conseguido assim, tao facilmente, voar como ela, mas os ouvidos continuaram a nao ouvir e as bocas continuaram a nao responder e os bolsos continuaram a nao se abrir. E ela sabia, mas ja nao tinha tanta certeza, passou a se questionar, a se perguntar, a se indagar...
Deixou a vergonha de lado, encheu o peito de ar sentindo cada molecula preencher cada alveolo de seus pequenos e fracos pulmoes e com a boca tremula e os ouvidos bem abertos tirou as maos dos bolsos abrindo os bracos pro vento e soltou com toda sua forca o poder das palavras “EU, posso voar”, foi quando tudo silenciou, ouvidos, bocas, bolsos... e ela sentiu-se pequena como nunca se sentira, sentiu-se insignificante como nunca fora e os olhos que ela sempre fechara para poder voar tremiam ao se abrir e verem que os outros olhos a olhavam espantados.
Enfim os ouvidos a ouviram, mas os olhos nao a viam, a julgavam, a negavam a culpavam e outros olhos a viam com pena, logo nao a viam; e ela nao entendia, nao sabia porque nenhum ouvido realmente a ouvia, nem porque nenhum olho realmente a via, so percebia maos e moedas saindo dos bolsos. Olhou para o chao, coisa que nunca fizera, e uma moeda rodou trilhando seu caminho ate as rodas de sua cadeira.
Finalmente entendera que ninguem a via, ouvia ou ate mesmo entendia que ela realmente podia voar. Percebera entao, que os ouvidos e bocas e bolsos nao queriam ouvi-la, nem ve-la, nem senti-la, pois ELES NAO podiam voar. E sentindo-se assim, tao especial, mas incapaz de fazer com que todos ouvidos e bocas e bolsos voassem decidiu por fim no seu dom e nunca mais fechou os olhos.

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